Descanso dos guerreiros..

Em jeito de conclusão, não queríamos encerrar o capítulo São Jorge sem antes fazer uma referência especial a um dos alojamentos: A casa do Avô Coelho. Dos muitos sítios por onde já tivemos a sorte de pernoitar, este foi sem dúvida dos que mais nos surpreendeu.

Trata-se de uma pequena adega recuperada pelos atuais proprietários, casa muito coquette, ideal para um casal mas que se adaptou perfeitamente aos 4, onde nos proporcionaram um acolhimento 5 estrelas, anfitriões sempre presentes quando preciso, isto respeitando sempre o nosso espaço, vizinhos super prestáveis, que até nos forneceram hortaliças e peixe (legumes frescos e mesmo peixe nos supermercados das ilhas nem sempre são fáceis de encontrar), porto/praia para darmos uns mergulhos a uns 5 minutos a pé, churrasqueira, que usámos e abusámos, e um terraço.. Fomos espectadores privilegiados dos melhores pores de sol que já tivemos a oportunidade de vivenciar. Esta casa e mesmo a fajã na qual se encontra, a de São João, acabaram por ser em muito responsáveis pelas boas recordações e já alguma saudade que temos desta viagem.


A segunda estadia, já para os lados de Velas, tinha tudo para ser igual ou até superior à primeira: localização, casa muito espaçosa, vista para o Pico e pores de sol ainda mais tchanan, comentários no booking com rasgados elogios aos anfitriões, piscina com um cenário brutal, enfim, a nossa expectativa era que fosse a cereja no topo do bolo, só que não.. Um caso típico onde a embalagem é definitivamente melhor que o conteúdo.. Ficam algumas fotos do bom que o alojamento tem, mas que ficou muito a dever à experiência anterior.

Turistas à procura de cetáceos!

Há quem defenda que conhecido um local, só devemos lá voltar se tivermos deixado para trás algo que gostaríamos muito de fazer. No caso dos Açores, tínhamos 3: canyoning (Flores ou São Jorge), mergulho com mantas (Santa Maria) e observação de cetáceos (todas as ilhas, com destaque para o triângulo). Ainda estivemos indecisos entre a 1ª e a última, mas lá resolvemos deixar o canyoning para as Flores, parece-nos uma boa desculpa para lá voltar…

Observar os cetáceos que abundam pelo mar das ilhas era uma das experiências que ansiávamos desde a nossa primeira passagem pelo arquipélago. Decisão tomada, lá procurámos uma empresa do ramo (não são muitas em S. Jorge) e marcámos. Do outro lado do telefone, atendeu-nos o Miguel, da SeaExplorersAzores, com o qual combinámos todos os pormenores e no dia marcado, bem cedo, lá fomos ter com ele até à marina de Velas. Aqui, tivemos direito a um briefing onde recebemos alguma informação sobre as espécies que poderíamos encontrar durante o passeio e conhecemos a Rita, também ela da SeaExplorersAzores.

O Miguel e a Rita são ambos biólogos marinhos. A formação destes aliada ao facto de um deles ser natural da ilha, para além de um regalo para os sentidos, tornou este passeio num tempo formativo.

O barco, semirrígido, levou-nos primeiro num calmo passeio onde pudemos observar a zona costeira de Velas. Avistámos noutra perspetiva o famoso arco desta localidade e algumas espécies que habitam nas rochas. De seguida passeámos junto ao Morro e Baía Entre-Morros. Embalados pela suave ondulação, não fossemos nós começar a querer fechar a pestana, o Miguel acelerou e rumámos ao infinito e mais além (vá, andamos lá perto)… Fomos chatear cagarros! É incrível a quantidade de cagarros que boiam nas águas do mar alto. Questionámos muitas vezes por onde andariam durante o dia (porque à noite não tínhamos dúvidas, é um all nigth long nas zonas costeiras das ilhas!).

Fomos levados até à Baixa dos Rosais, local muito procurado por mergulhadores com experiência. Encontra-se a 3 milhas marítimas da Ponta dos Rosais. Esta Baixa é uma formação geológica em que o fundo é dominantemente constituído por camadas sobrepostas de escoadas lávicas de natureza basáltica onde surgem grandes fissuras e acentuados declives. A sua coroa, a cerca de 15 metros de profundidade, apresenta à sua volta uma abundância de diferentes espécies, muitas vezes organizados em cardumes, daí ser um local tão procurado.

Contrastando com o início da viagem, aqui o mar não estava meigo, ondulação já significativa e muito desordenada, mas ainda assim não impediu o Turista e o Melga Júnior que, após alguns conselhos do Miguel (que disse que quem manda é o mar), quiseram meter-se na água para ver o rochedo. E conseguiram, mas não estiveram por lá muito tempo. Dizem que valeu a pena irem apesar do respeito que este lhes incutia, que o contraste entre a anarquia aparente que viam à superfície desaparecia mal mergulharam a cabeça. Aquela imensidão, azul profundo e silêncio, onde no meio do nada foi possível avistar a tal ponta, com cardumes a polvilharem a tela aqui e ali, serenos, quase que em transe.

Depois desta agitada parte do passeio, o Miguel e Rita conduziram-nos durante algum tempo para mais longe da costa, para tentar ver os cetáceos, mas o mar não estava de feição, só os peixes voadores parecem gostar de tanta agitação 😊. Os cetáceos, esses, vendo o reboliço que estava à superfície ou então, souberam que estávamos à procura deles, deixaram-se estar a tomar um chazinho de algas, algures no fundo do mar. Quando embarcamos neste tipo de passeio, é preciso ter noção que nunca é garantido o avistamento, por muito que quem forneça os serviços possam perceber do assunto, ninguém conseguiu ainda estabelecer um contrato com as criaturas marinhas para virem dar um ar da sua graça. Foi o caso naquele dia, alguma desilusão, claro está, mas paciência… É a vida no mar!

De regresso para mais junto da costa de São Jorge, fomos ouvindo o Miguel a falar sobre as suas aventuras de rapaz, quando com os amigos explorava alguns locais. A dada altura, parou o barco, pediu-nos para colocar a máscara e saltou para a água, para nos acompanhar a um dos locais áquaticos mais bonitos onde já estivemos: uma espécie de algar/caverna, apenas acessível por mergulho. Como o sol estava a pique e existem uns buracos no teto da gruta, fomos presenteados com um cenário único, com os raios solares a furarem a água como se de colunas de luzes de tratasse! Um dos momentos altos do passeio e até mesmo das férias.

Dali partimos em direção a Velas, sempre junto à costa. Pelo caminho o Miguel foi-nos falando de outros locais de interesse, quasi não frequentados por turistas, que acabamos por explorar nos dias remanescentes…

Igreja de Santa Bárbara (Manadas) – qual oásis no deserto

A beleza de São Jorge é acima de tudo paisagística, havendo poucos apontamentos de ordem arquitetónica com valor patrimonial na ilha (e mesmo os existentes nem sempre tiveram intervenções que nos pareceram felizes).
Não havendo na trupe ninguém que seja um guru no que toca a monumentos, estilos e afins, não deixamos de ter interesse e gosto em visitar tudo o que possa ter história, costumes e cultura associados. É por isso que a visita à igreja de Santa Bárbara, em Manadas, foi vivenciada como se de um bálsamo se tratasse.
Antes de mais, à chegada somos presenteados com os restos de um pequeno forte que se apresenta como uma espécie de varanda para?.. O Pico, pois claro!
Após tiradas umas quantas fotos candidatas a postais, tempo de nos concentrar no tema desta paragem.

Para quem chega e olha para a igreja de Manadas, diria que é mais uma, visto o seu exterior apresentar linhas simples, de aspeto cuidado, sem grandes ornamentos.
No entanto, toda esta aparente modéstia serve apenas de catalisador para o momento em que entramos. O seu interior.. É uma pequena joia, um concentrado de arte religiosa na forma de painéis de azulejo, retábulos e afins. Não é por isso de estranhar que por lá tenhamos ficado uma larga dezena de minutos, saltitando de pormenor em pormenor..

Sem dúvidas um must have num roteiro à ilha..

‘Por mares nunca dantes navegados’…

Já é mais que sabido que a decisão de levar dois caiaques insufláveis não foi, de todo, consensual. Ideia do Turista, o mais arrojado, destemido e aventureiro (nota mental: melhor por-lhe um babete antes de ele ler isto…). Muito tempo antes da viagem, ele atirou o barro à parede… Disse-o em tom de brincadeira e ouviu logo uns quantos “Não! Estás doido!”… Ocupar espaço de bagagem com dois caiaques não estava a obter a concordância do resto do clã…

Depois de uma análise mais cuidada ao mapa da ilha e tentando perceber se conseguiríamos chegar à “foz” da ribeira de S. Tomé, onde o mapa indiciava haver todas as condições para uma queda para o mar, sem termos de remar horas a fio, o sim lá ganhou. Mesmo assim, a Viajante foi sempre um pouco incrédula, tal como S. Tomé, que só acreditou vendo.

A partida foi desde o Porto da Panela, na Fajã de S. João. Enchemos os caiaques, vestimos os coletes e aí fomos nós, quais descobridores destemidos, mar adentro. Deviam ser perto das 16h quando saímos… O mar, este, já o tínhamos visto mais calmo. O primeiro km foi feito com uma ondulação algo desordenada que, em mar aberto, mesmo que só a uma centena de metros da costa, é sempre algo que mete respeito. Se a esta agitação juntarmos o avançar das horas, ficava cada vez mais difícil ver o que ia por baixo da superfície, adensando o respeito que o mar nos merece, de tal forma de que o tal destemido que falei há pouco, andou mais para trás nos inícios, quase que a apalpar o mar…

A Fajã de S. João deu-se a conhecer numa nova perspetiva, também ela encantadora. Fomos remando, remando e remando até que, após contornarmos um pequeno cabo, avistámos ao longe a primeira queda de água a cair para o mar! Foi ver para crer! Á medida que nos aproximávamos, fomos percebendo que havia mais quedas, umas mais avantajadas que outras, mas todas, no seu conjunto, se apresentavam como se de um cenário num palco se tratasse e nós, na plateia, sozinhos, balançando com o badalar das ondas, num mar já mais ordenado e calmo…

Hora de voltar para trás, já com quase duas horas de “distância” desde que saímos do Porto da Panela. Tínhamos mesmo de regressar se queríamos chegar antes do anoitecer. Quase a chegar à Fajã de S. João avistámos um grupo de cabras do monte, que percorriam em fila os calhaus junto à costa. O mar este até parecia outro, muito mais calmo, o que nos permitiu admirar mais um pôr de sol, desta no meio do mar, onde as palavras paz e serenidade serão as que melhor descrevem a experiência…

Epílogo: Uns dias depois, não satisfeito, o Turista acabou por ir até a Fajã dos Vimes, desta sozinho…

PR 01 – Serra do Topo – Caldeira de Santo Cristo – fajã dos Cubres (10km linear)

É impossível começar a escrever sobre este PR sem deixar escapar uns suspiros. Este é sem dúvida, um dos mais agradáveis percursos pedestres da ilha de S. Jorge. E é também o mais procurado pelos turistas, o mais calcorreado de todos! Enquanto que nos outros trilhos, com sorte, encontramos uma ou duas pessoas, neste foram dezenas de pessoas, falantes de diversas línguas, uns mais preparados para o caminho que outros (sapatilhas brancas, do dia a dia, enlameadas ou ‘embosteadas’ – definição para sapatilhas com novos acabamentos, baseada numa mistura de lamas e poios bovinos). 

Para quem fica nesta ilha numa estadia muito breve, dois ou três dias, ou pouco mais, este percurso é imperdível, para chegar à Fajã de Santo Cristo e terminar na Fajã dos Cubres: dois postais de visita da ilha!

O trilho inicia na Serra do Topo, onde existe um parque de estacionamento com bastantes lugares que, dada a popularidade do PR, costumam ser parcos, por isso a regra é chegar cedo ou então estacionar na fajã dos Cubres que tem muito mais lugares e apanhar táxi para o Topo. Seguindo as indicações do trilho, que nos faz passar por zonas de pastagem, em que é necessário abrir e fechar portões de madeira para o gado não fugir, fomos descendo e observando aquela paisagem (acho que não a consigo descrever, mas ela está-me aqui bem cravada na memória).

Parando aqui e ali para as fotos da praxe com o gado que se está nas tintas para quem passa, porque há tanto verde para saborear, descemos até encontrar um pequeno desvio ao trilho, para observar uma cascata, que nomearam de Cascata Pequena. Ali foi um bom sítio para fazermos a pausa café da manhã, com o rumor das águas que caíam do alto da cascata… Saímos dali para continuar a caminhada, pois entretanto chegou uma família numerosa (das sapatilhas brancas…) e era necessário dar-lhes espaço para apreciarem aquele espaço.

Ainda nos cruzamos com mais um amigo de quatro patas com crina, já começa a ser praxe por estas bandas, e, para não variar, lá encetamos contactos.

Continuando, encontramos um local de onde podemos avistar a caldeira de Santo Cristo, como quem avista o tal ambicionado troféu!

Com forças redobradas, rapidamente descemos até à Fajã, que, na entrada, nos faz percorrer um carreiro/caminho entre muros de pedra negra carregados de aloés. Este leva-nos até ao Santuário do Senhor do Santo Cristo.

Ali fizemos um pequeno desvio e prosseguimos pela zona de calhaus rolados, para ver o mar e ao mesmo tempo a vista sobre a Fajã e Lagoa. É nesta que crescem as afamadas amêijoas da Caldeira de Santo Cristo, pitéu que todo o turista espera (e deve!) provar quando vem à ilha. 

Hora de refrescar o corpo nas águas da lagoa, uma experiência que recomendamos (uso de sapatos de água altamente recomendável). Ali nos mantivemos por um bom bocado e almoçámos. E as ameijoas?! Não as provaram? – perguntam vocês… Já tínhamos provado em 2016. É um pitéu dispendioso e em boa verdade, as que estavam nos restaurantes naquela altura eram congeladas visto termos estado em pleno período de defeso da apanha … Por isso, guardamos o dinheiro para outras aventuras.

Como o trilho continua até à Fajã dos Cubres, lá tivemos de deixar aquele postal e retomar o caminho.

não sem antes atiçarem uma fera contra o Turista… Bobby, ataca!

O trajeto entre a Fajã de Santo Cristo e a Fajã dos Cubres, com a Fajã do Belo pelo meio, é partilhado com os veículos de 4 rodas, vulgo moto4, que circulam para servir de táxi aos impossibilitados de percorrer o caminho a pé (se bem que alguns/muitos mais pareciam padecer de preguiça…). Como o caminho é muito estreito, foram diversas as vezes que o povo caminhante teve de se empoleirar onde era possível, para deixar passar tais veículos. Depois de passar a Fajã do Belo, a nossa visão consegue já alcançar parte da Fajã dos Cubres, outro local que não fica nada atrás da Fajã de Santo Cristo em termos de beleza.

Mesmo à entrada da Fajã dos Cubres, existe um grande parque de estacionamento onde se encontram alguns táxis, para quem não quiser prosseguir. Nós prosseguimos, visitando a parte das lagoas (nestas é proibido tomar banho) e depois para o centro da localidade, onde junto à igreja, se encontram alguns cafés/roulotes e uma fila ordenada de táxis que aguardam a chegada dos turistas que precisem de ser transportados até ao parque eólico. A viagem custou pouco mais de 20€ e demorou cerca de 20 minutos.

Ribeira de São João

percurso do dia

Dia de descanso dos percursos! E para “desenjoar” um pouco dos trilhos marcados da ilha, nada melhor do que ficar por perto e explorar o local onde estávamos alojados. Em conversa com locais, já tínhamos ficado com a pulga atrás da orelha acerca de um poço + queda de água que se encontram a montante da ribeira que desagua nos limites da fajã. Se a isto acrescentarmos o facto das águas desta serem cristalinas, estava feito o convite, pelo que, neste dia de repouso, nada melhor do que fazer nova caminhada.. 🤦🏻‍♂️😂

Revelou ser uma boa aposta, o trilho acabou por ser o leito da ribeira, onde fomos saltando de pedra em pedra.

A progressão é feita ribeira acima, estando esta na base de um mini desfiladeiro, com autênticas paredes a balizar o seu leito em alguns pontos, pequenas quedas de quando em quando, até conseguirmos avistar finalmente uma queda de água e o seu poço.

Pelo meio, alguém (aka Viajante) aproveitou para arranjar algum material de marketing.. 😁

Moral da história, estivemos por lá toda a manhã, numa piscina natural só nossa onde, numa das paredes, existiam fios de água a cair, a fazer lembrar um pouco as 25 fontes, na Madeira. Não fosse não termos levado o almoço, provavelmente teríamos por lá ficado o dia todo..

fajã de São João (fonte: google maps)

GR01 SJO – Etapa 1

Troço Fajã de São João – Topo

A opção de fazermos troços de Grandes Rotas para complementar os PRs já existentes não é novidade, já assim foi em Santa Maria e Flores. Se há coisa que sabemos (ou deveríamos saber..) há muito, é da importância de estudarmos o percurso, sendo a tarefa facilitada se tivermos o panfleto dos mesmos, que reúne um concentrado de informação. No caso deste troço que, dada a extensão e sendo linear, nos obrigaria sempre a termos de utilizar um meio complementar de locomoção, neste caso um táxi, deveríamos ter sido mais criteriosos quanto ao ponto de partida. À semelhança do que aconteceu para outros percursos, estando “sediados” na fajã de São João, não nos quisemos chatear logo cedo com transportes e iniciamos a partir dali. Ora, voltando um pouco atrás, para a tal história de prepararmos e termos um concentrado de informação no panfleto dos percursos, pois bem, há lá um dado que era particularmente importante no que toca ao que íamos fazer neste dia: a topografia! Moral da história, foram uns 450m de acumulado positivo logo no primeiro Km..  🙄

Resultado, fotos só depois do primeiro km! 😂

Tirando a parte do acesso à fajã do Cardoso (o tal que “escalamos”), este troço do percurso é sobretudo caracterizado por caminhos agrícolas, em terra batida, que nos proporcionam belas vistas para o mar aberto (já é preciso fazer um esforço para conseguirmos ver a ilha do Pico).

Também nos cruzamos por mais uns cursos de água, mas nenhum deles com a qualidade/aspeto da ribeira da São João. Fizemos uma pequena paragem num deles, que formava um pequeno poço, onde o único maluco, perdão, corajoso foi o Turista. Ainda tentou desencaminhar outros a darem um mergulho, com o argumento que o fenómeno da água mais turva seria como no poço do bacalhau, nas Flores, mas sem sucesso.. Mesmo o próprio saiu de lá pouco convencido e a rezar para que não lhe nascesse nenhum braço no meio da testa..

Retomando caminho e já com a barriga a apertar, foi ainda possível conviver um pouco com outro animal de 4 patas, que se encontra com alguma facilidade na ilha, o cavalo.

Acabamos por chamar um táxi e fomos almoçar a casa. Não obstante, já mais para o final de uma tarde farrusca, com alguma chuva à mistura, demos um salto até à Vila do Topo para “acabar” o trilho e deambularmos um pouco pela localidade.

PRC 06 SJO

Norte Pequeno – Rota circular (10,8km)

Graciosa à vista 💖

Com as mochilas abastecidas de mantimentos e água, rumámos até Norte Pequeno, local de partida para o percurso de hoje. A parte inicial faz-nos passar pelo povoado e depois por terras onde as vacas, cavalos e cabras tomam as suas refeições de pasto, com vista para a ilha Graciosa.

A descida começa a fazer-se sentir cada vez mais acentuada até à Fajã do Mero, tão acentuada que deu origem a um monumental malho da viajante, que mesmo com o auxílio dos bastões, conseguiu tal proeza… No meio de tanta verdura, fomos descendo cuidadosamente o trilho aos ziguezagues até encontrar as primeiras habitações da Fajã do Mero.

Nesta Fajã podemos encontrar um exemplar bem conservado de uma habitação tradicional.

casa típica – uma espécie de Santana (Madeira) à moda de São Jorge

Depois de passar alguns minutos a observar esta Fajã com nome peixe, continuamos a caminhada em direção à Fajã da Penedia. Aqui encontramos uma estrada de terra vermelha, algumas habitações e uma ermida.

Prosseguindo o trilho, fomos em direção à Fajã das Pontas. O troço é feito por uma zona mais junto ao mar, com piso de pedra solta nalguns locais, o que faz com que se deva caminhar com mais cautela a fim de não resvalar. Envolvência agradável, pois pode-se ouvir a rebentação das ondas nos rochedos negros e apreciar algumas zonas onde apetecia estar de molho.

ainda dizem que não é possível ter estilo numa caminhada…

Isso foi possível um pouco mais à frente, na Fajã das Pontas, onde encontrámos um pequeno porto e ali, por esta ordem, saltámos para a água, comemos e descansámos.

Depois disto, voltámos para a Fajã da Penedia, onde o percurso nos conduz a uma valente subida até ao ponto de partida – Norte Pequeno.

PR09 SJO

Fajã dos Vimes – Portal

escadaria PR09

Para finalizar a saga dos percursos da fajã dos Vimes (esquecendo o PR02 que estava em obras), seguimos rumo ao Portal. Trata-se de um percurso que, e tendo por referencial o que podemos encontrar na ilha, é dos menos exigentes fisicamente falando, só tendo um desnível mais acentuado na zona da escadaria de pedra.

Percurso curto, que tem por pontos altos 2 estabelecimentos que vendem café da fajã, as respetivas plantações, vistas para o Pico, passagem pela Fajã da Fragueira e uma escadaria de pedra quase a finalizar.

Tendo um músico na comitiva, este tinha particular interesse por uma edificação da Fajã da Fragueira. São Jorge é conhecida pela produção de músicos de qualidade, sendo mesmo possível encontrar diversas casas filarmónicas espalhadas pela ilha. Um dos expoentes máximos dessa expressão musical pode ser encontrado no maestro Francisco de Lacerda, cuja obra extravasou em muito a ilha. E é com pena, isto apesar de podermos encontrar algumas homenagens no concelho, vermos que um dos locais onde o músico viveu durante alguns anos, está em ruínas. É estranho uma ilha onde o património histórico não abunda, não valorizar o que tem ou quando o tenta fazer, fá-lo de uma forma algo dúbia (exemplo mais flagrante será talvez o auditório municipal de Velas, contruído dentro do Forte de nossa Senhora da Conceição).

Fajã dos Vimes

Se a norma é, usualmente, termos um pedaço de terra mais plano que entra mar adentro, isto quando olhamos para a maior parte das outras fajãs da ilha, a dos Vimes difere por estar perfeitamente integrada na linha de costa da ilha e é abraçada por arribas que tornam este local dos mais chuvosos, coisa que coincidência ou não, pudemos atestar. Para além de ser ponto de passagem/cruzamento de trilhos pedestres, este é um local que nos parece obrigatório quanto mais não seja para ver as colchas, feitas e tecidas por artesãs locais, ou provar o café produzido na fajã, havendo dois spots para o fazer: o já afamado café Nunes e a Quinta do Café, tendo a nossa escolha recaído neste segundo que ficava mais à mão para quem faz o PR09 (que falaremos no próximo post) e, bom, em boa verdade, mesmo que não fosse, sendo nós do contra, teríamos escolhido este na mesma 😬.

Só podemos dizer que foi uma bela surpresa, muito aromático (e com um toque frutado e… ups, líquido errado). De referir que é também possível fazer visita às plantações e perceber todo o processo de fabrico, todo ele artesanal. Finalmente, a par com Gran Canaria, este é um dos únicos sítios na Europa que tem produção já com alguma tradição (primeiras plantações remontam ao século 19).

Feita a degustação e, como um dos panfletos de PR referia que o porto é um bom spot para refrescar, os nossos melgas resolveram dar uns mergulhos e.. hum.. bom, fotos falam por si 😁

PR03 SJO – parte 2

Troço entre Lourais (3º) – Fajã dos Vimes

ponte suspensa fajã dos cavaletes

Ahh, Lourais e os seus belos queijos.. Vá, foco!

Como tínhamos ficado por Lourais (3º, conforme identificado no mapa do PR), este foi o ponto de partida natural para a segunda e última etapa do PR03, junto à ermida de Nossa Senhora do Livramento. Se na primeira parte foi a subir, desta foi sempre a descer. Um início muito à semelhança do que tinha sido a parte final da primeira, com campos de cultivo a apresentarem um relevo cada vez mais em patamares e ribeiras com autênticos mini desfiladeiros, cascatas e quedas de água.

Dos percursos mais completos e bonitos que já fizemos. Completo porque tinha tudo: pouca afluência (somos capazes de nos termos cruzado com uma pessoa), bastante água com cascatas/quedas de água em vários pontos, muito verde e sombras, single track em quase toda a extensão, ponte suspensa e vistas lindíssimas para fajãs da ilha e o Pico.

Só não foi perfeito por causa da chuva, acabamos por ter de improvisar um sítio para almoçar, mas ei (!), se não fosse assim não seria Açores 😊

PR03 SJO – parte 1

Troço entre fajã de S. João e Lourais (3º)

ermida fajã São João

Aproveitando o facto de estarmos alojados na fajã, partimos do seu centro, onde encontramos a sua lindíssima ermida bem como o único estabelecimento de restauração (e os seus belos petiscos), em direção ao Porto da Panela.

Fomos apreciando as casas com alguns traços típicos, sendo o mais evidente as janelas de 3 folhas de correr sobrepostas (ou seja, correm na vertical!), algo que encontramos ainda com alguma abundância nesta fajã. Mais à frente, a praia da Baía da Areia, uma das poucas com areia na ilha (conseguimos encontrar 3 enquanto por lá andamos).

Segue-se a ponte sobre a ribeira de São João, de onde é possível adivinhar que a montante se encontra um desfiladeiro (havemos de escrever um post só sobre ribeira…), para de seguida começar o calvário, perdão, a subida, se bem que ainda de uma forma ligeira. Numa fase inicial é possível observar outra fajã, esta dizem que é “do Além”. Apesar do seu acesso já só ser aconselhável a viaturas com tração mais musculada e com um traçado em terra batida, algo comum em muitas fajãs, é possível observar pequenos socalcos em degraus ainda cultivados com tomateiros, abóboras, milho, inhames, vinhas, figueiras e algumas bananeiras. Aqui e ali, algumas pequenas casinhas de pedra.

Depois dos últimos socalcos cultivados, começa verdadeiramente a subida, mas as vistas… Bem, olhando para a esquerda, o mar e a ilha do pico, olhando para a direita uma parede de verde! Olhando para trás, a fajã de S. João. Sobe-se, sobe-se e continua-se a subir. A determinada altura, ouve-se o cantar de um milhar (nós contamos 😬) de melros ao desafio na mata …

E assim fomos até Lourais, não sem antes sermos surpreendidos por uma ribeira que em tempo de mais pluviosidade deve ali formar uma majestosa cascata: a ribeira do Salto.

De referir que é um dos muitos locais escolhidos para a prática de canyoning (1). Não satisfeitos, o Melga Júnior e o Turista ainda foram à procura do topo da queda (e encontraram!), enquanto que o resto da equipa deu meia volta, aproveitando para fazer uma paragem na praia e refrescar. Caso para dizer que soube a pato!


(1) Para quem conhece as Flores sabe que a ilha é um pequeno paraíso para a prática do Canyoning. Das pesquisas para estas férias, já sabíamos que muitos punham São Jorge em pé de igualdade com as Flores. Depois dos trilhos que fizemos, dos desfiladeiros que vimos (de uma beleza incrível e aparentemente intocados) e quedas de água imponentes, não ficam dúvidas do potencial da ilha para esta atividade. Só temos um senão, isto comparando com Flores: a qualidade da água. Pareceu-nos que muitos cursos acabam por sofrer da abundância de gado bovino na ilha…

“14 dias numa ilha?”

“Não morreste de tédio?!”

Em conversa com uma amiga sobre paragens de férias e a propósito do tempo passado em Santa Maria (2018), ela fez um comentário do género: “Tantos dias numa ilha tão pequena?! O que se faz num território tão limitado durante tantos dias? Não morreste de tédio?!”… O comentário ficou-me na memória e poderia aplicar-se relativamente aos dias que passámos em S. Jorge este ano. O que fizemos durante tantos dias nesta ilha escarpada e estreita, com tanto animal bovino nos prados (e estradas …), com tantas Fajãs, com tanto mar à sua volta, spots para mergulho, com tantos percursos pedestres, com iguarias tão suas, com tanta paisagem de pasmar, muitas com o Pico a fazer pose..?
Muito houve e haveria ainda por descobrir, a ideia foi mesmo tentar ver coisas que não aparecem nos roteiros e mesmo que apareçam, não picar só o ponto.
Com tanta coisa para partilhar, deparamo-nos com dúvidas quanto à melhor forma de organizar os temas. Acabamos por, ao invés dos posts passados, dividir não por dias, mas sim por experiências. Assim, vamos ter publicações mais focadas, a falar de:

1 – Percursos pedestres
2 – Sítios para dar uns mergulhos
3 – Miradouros e Fajãs
4 – Outras atividades: passeio de barco, kayak
5 – Alojamento/Gastronomia

Posto isto, a publicação que se segue irá incidir sobre o que nos tomou mais do nosso tempo: caminhar!

Graciosa à vista!

Ao encontro do dragão adormecido..

foto de https://discoverportugal2day.com/

Na viagem de ida para estes merecidos dias de férias (para quem os vai gozar, são-nos sempre 😬), ia escutando conversas soltas de outros que aguardavam o voo de escala para o destino final. No meio do ruído, o ouvido fixou-se numa conversa em que alguém referia: “bla bla bla … S. Jorge, um dia chega para dar a volta à ilha, não tem grande coisa para ver!” Que facada no peito… Como eu gostaria de me ter intrometido e dizer: “Permita-me discordar! …”. Não o fiz, tentei antes fazer o exercício de me colocar na pele deles e, em boa verdade, não fomos melhores, também fomos ingénuos há uns anos atrás quando reservámos apenas um dia e meio para ver esta ilha do grupo central (nesse ano estivemos nas 5, a fazer aquilo a que se pode chamar de farejar ou picar o ponto, ficando apenas numa estadia mais prolongada na ilha do Pico). Do que já vimos e ouvimos, diria que Faial e Corvo sofrem do mesmo preconceito, 1 dia chega…

Relativamente a São Jorge, em boa verdade, para quem não está para se chatear muito, a ilha terá pouco para oferecer, não diremos 1 dia, mas 3 chegarão para bater os pontos/circuitos mais turísticos e tirar algum partido dos mesmos. De referir que a isto ajudará o facto da mesma ainda estar relativamente pouco explorada, turisticamente falando.

Quanto aos interlocutores da conversa, desconfio que se os voltasse agora a ouvir, feito o tour de um dia, quase que apostaria num: “que pena não termos passado mais uns dias, não aproveitamos isto, não fizemos aquilo..” Pelo menos foi o que aconteceu connosco e nos fez voltar à ilha dragão a ver se, desta vez, somos capazes de absorver a ilha e tudo aquilo que ela nos queira proporcionar… Pelo menos uns quantos queijos foram, que o diga o Melga Junior…

Praia da Baía da Areia

Açores – São Jorge – Prefácio

2021 deveria ter sido a oportunidade de retomarmos o projeto que tinha ficado em águas de bacalhau, mas com o avançar do ano fomos percebendo que teríamos, muito provavelmente, uma reedição do ano anterior, isto se não tentássemos tomar as rédeas o quanto antes. Para quem gosta de viajar e tendo em conta o que temos tido oportunidade de ver de outros pares, há 2 possibilidades para quem não tem margem para grandes surpresas em tempos de pandemia: ou se marca tudo muito em cima do acontecimento o que, tendo em conta o cenário atual, pode dar origem a autênticos achados em alguns destinos, ou então se for para definir as coisas com algum tempo, então optar por um destino “seguro”. Visto os 2 seniores terem estado neste início de 2021 com novos projetos, com muitos ajustes à mistura, optamos pela opção que nos permitiria fazer as coisas com mais calma, sem grandes stresses.

São Miguel – Miradouro da Boca do Inferno

Quando começamos a voar para outras paragens, surgiu o boom do turismo nos Açores, que veio por arrasto à autorização de algumas low-costs poderem voar para São Miguel. Tendo em conta o nosso perfil, gostamos muito de ver patrimônio seja ele edificado pelo homem, seja natural, e querendo ver os Açores na sua forma mais genuína, ainda sem grandes alterações que o turismo de massa pudesse trazer, visitar as 9 ilhas o quanto antes foi durante uns anos a nossa prioridade. E assim foi, tínhamos fechado este capítulo há 2 anos com a nossa estadia em Santa Maria, onde palmilhamos literalmente toda a ilha (só utilizamos transportes públicos e táxi para fazermos ligação aos pontos de partida de PR´s e regressarmos ao local de pernoita).

Santa Maria – PR05 Costa Sul

Este masoquismo viajante surgiu um pouco por acidente, aquando da nossa estadia pelo grupo central, quando visitamos as 5 ilhas. Na altura, só tínhamos acautelado as viagens inter ilhas, fomos alugando viaturas muito em cima do momento e resolvendo eventuais falhas com táxis e autocarros. E podemos considerar que, tendo em conta a época alta, já com turistas, sim, mas sobretudo muitos emigrantes, as coisas até correram muito bem, isto até chegarmos à última ilha, Graciosa. Falhados os esforços de  arranjar uma viatura antecipadamente e dado a hora já tardia da nossa chegada para tentar in loco, restou-nos olhar para o mapa da ilha enquanto fazíamos a viagem de barco Terceira-Graciosa, e tentar delinear uma estratégia para aqueles quase 2 dias, aproveitando algo que já tinha sido pensado para o Faial como plano B: táxi se precisarmos, sempre que possível caminhamos, sendo o objetivo atravessar a ilha..

Graciosa – acesso ao caldeirão

Sendo a segunda menor ilha do arquipélago, acreditávamos que era um risco controlado.. E foi! Para quem conhece as nove ilhas, a afirmação que se segue poderá ser um choque, mas em boa verdade, a ilha que marcou verdadeiramente o Turista até hoje foi a Graciosa. É verdade que pode ter ajudado o facto de, pela primeira vez, termos tido facilidade em comer peixe, ou por termos ficado alojados perto das termas, com um fluxo de água de água quente para o mar, ou pela forma como se acede ao cone principal da ilha bem como à cavidade da furna do enxofre.. Muito ajudou para esta sua apreciação, mas em boa verdade o catalisador foi o facto de, pela primeira vez, este não ter conduzido, não sendo necessário estar todo o tempo atento à estrada, podendo os seus sentidos serem desviados para tudo o que o rodeava, de uma forma que não tinha acontecido nas outras.. Fruto desta experiência, Flores e Santa Maria já foram pensadas para tentarmos caminhar o máximo.

Flores – A “nossa” rica casinha..

Após a conclusão das 9, olhando para trás, tínhamos a sensação que 4 ilhas mereciam um regresso mais prolongado: Graciosa, Faial, Corvo e São Jorge. Se a esta lista acrescentarmos o facto de não termos íman desta última, a escolha para este ano só podia ser uma..

Terceira – “Cabemos todos ali?..”

Road Trip verão 2020 – dia 14

Vila Nova Santo André – Ericeira

A nossa pernoita foi em Vila Nova de Santo André, numa área que uma cadeia de supermercados acabada em “marché” disponibiliza aos autocaravanistas. O espaço, junto de uma bomba de gasolina e nas imediações do dito supermercado, não é dos mais encantadores, mas serve perfeitamente para uma noite e para os objetivos que tínhamos para o dia seguinte. Serviço de despejo de águas sujas, abastecimento de água limpa, tudo ok! Limpeza do espaço… pouca, provavelmente resultado do pouco brio de alguns autocaravanistas, coisa que por aqui e noutros sítios tivemos o desprazer de presenciar. O bom de acordar ao lado de um supermercado é que temos possibilidade de ir comprar pão fresco logo pela manhã!

Saindo deste local, fomos aproveitar para conhecer a praia junto à lagoa de Santo André, onde nunca tínhamos estado antes. Não foi, na nossa opinião, nada de muito surpreendente. É certo que não nos alongámos muito na visita: demos apenas um pequeno passeio junto da parte da lagoa e aproveitamos para dar um mergulho no mar.

Seguimos rumo a outras paragens. Fomos para a zona costeira do parque-natural de Sintra-Cascais. A nossa primeira paragem por estas bandas foi em Azenhas do Mar. Depois de algumas voltinhas para tentar encontrar um espaço onde estacionar a bicha, fomos apreciar a vista panorâmica que é a mais instagramável de todas: a vista sobre a
vila de Azenhas do mar e a sua piscina de água salgada.

Continuamos depois a nossa viagem rumo ao norte, parando na praia de Magoito onde por ali ficamos a fazer um pouco de praia. Esta, com alguma rocha a mistura, faz-nos um pouco lembrar algumas que tanto apreciamos mais a sul…

Voltando outra vez à estrada, fomos em direção à Ericeira, onde decidimos fazer a última pernoita desta road trip. Esta foi numa nova área de serviço para autocaravanas, no parque intermodal da Ericeira. Depois de jantar, decidimos ir à procura de gelados artesanais, como que em jeito de desforra de último dia de férias… Descemos então em direção à zona piscatória da Ericeira, a parte mais turística e percorremos as ruas (cheias de gente destemida e sem máscara) onde por fim, encontramos a dita gelataria.

E assim termina o nosso périplo, feito com muito improviso fruto da situação pandémica em que nos encontrávamos. Uma experiência diferente da que estávamos acostumados, que serviu para conhecer novos locais bem como reviver outros que nos tinham deixado saudades. Não é de todo comparável a roadtrip que tínhamos agendada para o verão de 2020 por terras canadenses, mas não deixa de ter sido mais uma aventura com os 4 e quanto a isso, não há destino capaz de bater este todo…

Road Trip verão 2020 – dia 13

Aljezur – Vila Nova de Santo André

Fruto do desapego a qualquer itinerário com um planeamento mais rígido, esta minivolta a Portugal acabou por ser algo errática se olharmos para o mapa e dias passados em alguns pontos. Das poucas coisas que tinhamos fechado e que não queríamos abdicar é que o regresso nunca seria feito por etapas superiores a 250kms pelo que era tempo de soltarmos as amarras e rumarmos a norte (cuarago!).

Pequeno almoço e último banho de nevoeiro tomados, saímos do parque de campismo e resolvemos fazer uma última paragem por terras mouriscas e passar um par de horas numa praia da nossa coleção, Vale dos Homens, onde continua a ser possível encontrar sossego e até algum isolamento, numa praia que apesar do seu perfil acidentado, consegue oferecer um amplo areal.

Depois do almoço, tempo para uma última paragem em Rogil para comprar uns quantos pães característicos da localidade e seguir caminho. Existiam 2 pontos que queríamos visitar há muito e aproveitamos o facto de o regresso ser em modo tartaruga, sendo o primeiro a praia do Brejão. Bem, na realidade e apesar deste ser de facto o nome da praia ou pelo menos era, a verdade é que hoje, se a quisermos encontrar, será mais fácil pesquisar por praia da Amália, pois este era um dos retiros prediletos da famosa fadista.

No caminho e à medida que nos íamos aproximando, aumentava a densidade das estufas, estando o próprio acesso à praia rodeado pelas mesmas. Não querendo pôr em causa a importância desta indústria até porque será com certeza muito importante para a região, mas a presença das mesmas, com tanto plástico à mistura, acaba por retirar alguma mística que esperávamos encontrar no local. Estacionada a Bicha, o acesso à praia faz-se por um trilho que se desenvolve numa corga/pequeno vale, onde a vegetação acabou por criar alguns túneis, até chegarmos ao alto da falésia, de onde é possível avistar toda a praia.

A praia em si é muito gira, mas dada a afluência, de secreta já nada tem. O que vale é que havia espaço para todos. Foi possível desfrutar da mesma até porque esta apresenta muitas características que tanto apreciamos numa praia: beleza, arribas, rochas que criam barreiras de proteção para os banhos, piscinas e habitat de muitas espécies que tanto gostamos de observar nas marés baixas. Mas esta ofereceu-nos um bónus: não é que o Mitch Buchannon resolveu aparecer! Ainda diziam que a praia não era vigiada..

Foi possível também avistar um peixe de água doce a nadar numa espécie de baía/piscina natural.

Em relação aos Melgas, se calhar o Turista não ponderou muito bem quando os batizou, às vezes (muitas) estes mais parecem uns patinhos de água..

E não havendo mais nada destinado até ao local da pernoita, fomos por ali ficando até ao entardecer..

Road Trip verão 2020 – dia 12

Ainda por terras de Aljezur…

Ora se ontem, que esteve praticamente todo o dia nublado, resolvemos ficar numa só praia o dia todo, hoje, que está aquele sol que até faz estalar as ervas nos campos, vamos obviamente pegar nas bicicletas e limitar-nos a… fazer um périplo por diversas praias da região! 😬

A primeira etapa foi entre o Parque de Campismo e a praia de Monte Clérigo (9,8km). Percurso interessante, numa primeira parte em terra batida, tendo a municipal 1003-1 dado seguimento. Até a referida estrada, pudemos ir contemplando a vista para o vale da Ribeira de Aljezur. Assim que avistámos a praia de Monte Clérigo, parámos para as fotos da praxe e descemos até à praia onde aproveitamos para refrescar os engenhos de locomoção (aka nós) no mar…

Já fresquinhos que nem umas alfaces, marcamos mesa no restaurante “O Sargo”, que a Viajante e o Turista já conheciam e quiseram repetir a experiência e, por volta das 12h, já estávamos sentados para fazer o nosso pedido. Comida interessante, único senão foi esta ter sido considerada pouca para alguns do grupo… não querendo avançar com nomes, nomeadamente do Melga Júnior que, com fome, é capaz de, perdoai-nos a expressão, “comer um boi”!

Almoçados, hora de nos pormos a caminho. E que caminho… É incrível como por vezes acreditamos conhecer uma região e mesmo assim, esta acaba por conseguir surpreender-nos com pequenos tesouros escondidos. A verdade é que a zona entre Monte Clérigo e Arrifana sempre foi lugar por onde não nos aventuramos muito, talvez por estarmos presos ao comodismo do carro. Percorremos o caminho de terra batida entre Monte Clérigo em direção às praias da Coelha e Fateixa, até o caminho terminar (3,4km). Havia então um acesso que dava para a Praia da Coelha, que apresenta algum grau de dificuldade para quem vai simplesmente carregado com a sua própria toalha, pelo que estando nós com bicicletas resolvemos pegar nelas e… descer… (crazy elephants!)

Depois de requisitados uns quantos estudos sobre a melhor forma de proceder à descida, foi dada a instrução para avançarmos. À medida que íamos descendo, crescia a preocupação, ao verificarmos o ar de espanto dos que por nós passavam, levando-nos a questionar se não haveria algum problema mais à frente ou até na praia… Depois de alguma ginástica e passar de bicicletas de mão em mão, lá chegamos ao areal. Tudo normal, o que nos levou a concluir que as pessoas pelas quais passamos deviam ser só estranhas… 😅

Para aliviar o stress, encostámos as bicicletas a uns pedregulhos e fomos fazer o reconhecimento da praia, ora indo a banhos, ora apreciando o trabalho da Mãe Natureza.

O Turista, sempre alerta e com o seu faro apuradíssimo no que toca ao planeamento de trajetos, depois de molhar a ponta do dedo mindinho e verificar se o vento soprava de feição, teceu a teoria que, lá no fundo do areal, haveria outro acesso para subir e estaríamos assim já não muito longe da praia da Arrifana. Confiantes, ali fomos em cima das bicicletas junto ao mar (mais um check na nossa lista de coisas a fazer pelos menos uma vez na vida) e andamos, andamos, andamos…

E à medida que íamos andando, o semblante do Turista ía, curiosamente, ficando menos confiante…  Resultado: Não havia acesso nenhum! Apenas umas paredes de pedra intransponíveis, pelo que acabamos por regressar pelo mesmo caminho. Arrependidos por termos seguido o “teorias” do grupo? Nah, pelo contrário, esta é daquelas experiências que nos vêm logo a memória quando recordamos determinados contextos. Neste caso, sempre que pensamos nesta roadtrip ou em paz ou serenidade, vem-nos logo a memória aqueles minutos a andar de bicicleta em cima de areia molhada em praias quase desertas…

De volta à estrada, agora em direção à praia da Arrifana (10,8km), seguimos já um pouco cansados e esfomeados… A praia estava com bastante afluência, mas conseguimos um spot para estendermos as toalhas e lá fomos a banhos. Estranhamente, o nosso patinho de água (Melga Sénior) quis ficar na toalha porque se sentia esgotada! Tenrinha… Mas nada que uma mega tosta mista com pão alentejano não fosse capaz de resolver! Arrifana é um poço cheio de recordações. Foi a primeira praia da Melga Sénior, foi aqui a única tentativa, até hoje, do Turista em fazer surf (diz que teve pouco sucesso pois o mar estava flat e que o fato era uns números abaixo do dele – #dieta? – prendendo-lhe os movimentos… Foi aqui que também apanhamos das maiores ondas onde, apesar destas terem já com alguns metros de altura, ainda era possível mergulhar com um sentimento de segurança, tal não era a forma ordenada em como estas vinham, algo que caracteriza normalmente o mar desta baía.

Já com o Sol no horizonte, hora de regressar ao ponto de partida. Como ficamos até a última na praia e para não ficarmos sem luz natural, optamos pela estrada nacional até Aljezur e dali até ao parque de campismo (13,4km). Esta última parte já foi feita um pouco a custo, porque andar em estradas que não têm berma para a circulação (e com pesados a passarem a velocidades aparentemente excessivas), é um fator de stress para a Viajante, que prefere estradas de pó a asfalto. Algo que o munícipe de Aljezur deveria talvez rever, até para reforçar a aposta num turismo que se adeque a zona protegida na qual se insere.

Road trip verão 2020 – dia 11

Aljezur

Dia de ficar… Os dias anteriores foram de movimento constante. A Bicha, coitada, também precisava de repousar. E nós também…

Há muitos anos que não nos deslocávamos os quatro para o concelho de Aljezur. E desta vez, tínhamos uma vantagem sobre outras estadias: as bicicletas. Andar de carro é sinónimo de chegar mais rápido, mas priva-nos de muitas sensações… Dos aromas, do ar fresco a bater na cara, dos sons diversos da natureza. A partir do Parque de Campismo do Serrão, existem diversos caminhos de terra batida que nos levam a diversas paragens balneares. Hoje decidimos ir de bicicleta até à praia da Carreagem.

Ainda somos do tempo em que o acesso desta tão formosa praia era feito por um carreiro mal-amanhado e íngreme. Coisa para fazer desistir os mais comodistas… Hoje em dia, não é preciso desistir! Foi construído um passadiço de, como diria o Turista, cenas, que permite descer até à praia sem sobressaltos. Mas cuidado, o passadiço estava a precisar de manutenção! Aqui e acolá, existia uma falha ou outra, faltando tábuas em degraus… o que levou a que o sr. Turista, que estava em modo fotógrafo, com um olho sempre encostado ao visor, tivesse feito um ferimento nada simpático numa das suas canelas, de cima a abaixo… Depois de uns valentes minutos a praguejar e dos litros (diz ele) de sangue que jorraram mar dentro, o Turista lá se recompôs e voltou ao modo anterior, quase que a desafiar novamente a sua sorte…

As imagens falam por si. Não vale a pena descrever muito, porque este é um local em que se podem passar horas infinitas só a saborear… E a fazer “piscinas”, procurar estrelas do mar, brincar parvamente, como no tempo dos “mai’novos”. E neste dia, foi “só” o que fizemos!

E com o passar do dia, o sol foi espreitando, espreitando, espreitando até que…

Road trip verão 2020 – Dia 10

Minas de São Domingos – Aljezur

Hoje foi dia de percorrer Portugal de Lés-a-Lés, neste caso da fronteira este até ao oceano, no extremo oeste, de uma forma que provavelmente não o voltaremos a fazer, por estradas no limiar da fronteira do Alentejo com o Algarve. Este dia valeu sobretudo pela estrada, pelos cenários. Mesmo a Bicha gostou da estirada, apesar desta ser de serra. Uma mistura de serra e Alentejo, bom para quem queira desenjoar um pouco das planícies (não era o nosso caso).

Para além da estrada e paisagens, o percurso brindou-nos com 3 pontos de interesse: A arqueologia de Mértola (ahh, como o Turista foi.. bom, adiante..)

, a simplicidade de Almodôvar e a tristeza de ver que Monchique continua com o mesmo potencial de há uma década, continuando Foía e as Caldas os principais pontos de interesse, vetando o convento de Nossa Senhora do Desterro ao abandono.. A culpa é infelizmente imagem do que somos, o convento foi vendido após a extinção das ordens religiosas em Portugal, mas ao invés do que deveria ter sido feito, este edifício, que já na altura não estaria nas melhores condições, foi vendido em parcelas. Apesar dos esforços da autarquia em adquirir a sua totalidade, a verdade é que este ainda não é sua posse na totalidade, dificultando a sua recuperação.

Acabamos por nos focar no nosso destino, a malta queria praia! E praia tiveram, num que foi durante muitos anos o nosso destino de eleição, Aljezur. Acabamos por parquear a Bicha no parque do Serrão. Peca pela vegetação, tudo eucalipto, mas tem boas infraestruturas e é um bom ponto de partida para algumas praias do nosso top: Carreagem e Vale dos Homens, acrescendo Amoreira, que tem a singularidade de ter a desaguar a ribeira de Aljezur, um pouco à semelhança do que acontece noutra um pouco a norte, a praia de Odeceixe. Instalados, tempo de tirar os meios de locomoção de 2 rodas e de nos fazermos aos caminhos de terra, em direção a Amoreira. Esta é caracterizado por um areal considerável, se compararmos com a generalidade das praias da zona e como bons Tugas que somos, fomos logo:

– opção a) estender a toalha na planície de areia, no meio da confusão

– opção b) caminhar para o extremo norte da praia, cheio de formações rochosas e parcos locais para estender a toalha

Pois bem, apesar de termos estado diversas vezes na região, Amoreira acabou por ser sempre uma espécie de patinho feio das nossas escolhas pelo que foi com surpresa, em plena maré baixa, que descobrimos um spot que tem um misto de Carreagem e Vale dos Homens pelo que a nossa escolha acabou por reverter na opção b, obviamente. E lá terminamos o nosso dia a explorar criaturas e formações no meio das rochas..

.. não sem antes fazermos novas amizades com os suspeitos do costume ..